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"Sou um homem do novo"

Zhô Bertholini, 62, é um dos mais importantes poetas andreenses, surrealista por princípio, artista visual ativo e fanzineiro inquieto. Sua fala é prolixa e por vezes difícil de acompanhar - como cairia bem ao automatismo psíquico do pai do surrealismo, André Breton, com quem compartilha também a data de aniversário, 18 de fevereiro. Fiel aos princípios da arte moderna de louvação ao novo, da destruição criativa e do inconformismo, vê na geração dos selfies uma acomodação imperdoável do pensamento.

Foto: Adi Rock

UMA PERGUNTA INGÊNUA: O QUE É ARTE?

A arte é a liberdade por princípio, é tirar coisas do lugar comum e transformá-las. Não vou nem dizer a liberdade física, mas sim expressiva, intelectual. Arte é você ter sua liberdade de pensamento sem estar contagiado pelo sistema. É o constante redescobrimento.

UMA PERGUNTA ABSTRATA: QUAL O ESTADO DA ARTE?

O verdadeiro estado da arte é a surpresa. Quando você pensa que já viu de tudo, já assistiu de tudo de repente vem algo que, cara... te fascina! O Ron Mueck surpreendeu a todo mundo! Mas pode ser um livro ou uma banda que ainda irá surgir mesmo que apresente influências de algo anterior, não há problema, tudo tem influência de algo, mas por isso mesmo a arte deve ser criativa. E mesmo a releitura também surpreende. E a arte pede pelo lúdico porque se ela for só entretenimento ou consumo, como ocorre com frequência, ela se desvaloriza. Hollywood, por exemplo, produz só adaptações, remakes ou continuações. Onde está a criatividade? Por isso eu hoje sou mais um homem de recusas do que de aceitações. Pouca coisa atrai minha atenção. Eu sou um homem do novo. É preciso sempre um tsnunami que venha e traga a mudança.

QUAL SUA PRINCIPAL INFLUÊNCA COMO ARTISTA?

Mais do que ninguém, eu amei o Surrealismo, foi uma mola propulsora para tirar o pensamento do lugar-comum. Por isso que eu penso que uma pessoa que vai à exposição do Salvador Dalí e fica fazendo selfies não vai sair de lá e se perguntar quem mais era surrealista, não vai querer saber mais sobre aquilo.

QUAL SUA AVALIAÇÃO DOS APARELHOS CULTURAIS DA PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ?

Santo André tem um corredor cultural constituído pela Casa do Olhar, a Casa da Palavra, a Concha Acústica, o calçadão, Cine Teatro Carlos Gomes, o Museu, o Paço Municipal e Teatro Municipal. Aí eles tiram uma escultura a revelia, vão agora colocar também a revelia. Para a concha acústica eles não conseguem criar uma programação. Santo André não tem uma agenda Cultural. São Bernardo e Mauá têm agendas lindíssimas. O Carlos Gomes tem teto e pintura, mas nada lá dentro. Eles se interessam por arte e cultura? Para mim eles só se interessam por entretenimento.

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